Parte do Livro Máscaras da vida (continuação)
Sentimento de inadequação devido à obesidade X Comer excessivamente e procurar isolamento.
- É complicada a minha vida, sofro de obesidade, sou gorda desde criança, sempre foi assim, na escola eu era o elefantinho, a baleia e por ai vai. Não me chamavam pelo nome, eu era “a gorda”.
Sentia muito a exclusão, solidão, culpa só que a tristeza me fazia comer ainda mais, tudo era desculpa para eu comer.
Comer para mim é um vicio, não consigo não comer demais, eu sofro quando tento fazer regimes, até emagreço, mas por pouco tempo logo já estou comendo tanto que engordo tudo que havia emagrecido, outra vez.
Minha adolescência ta sendo péssima também, nenhum garoto da escola quer namorar a gorda. O pior que o cara que eu tava afim, disse aos amigos, que podia ser qualquer uma que gostasse dele menos eu.
Imagina só o quanto eu choro todos os dias. Eu me isolo no meu quarto tenho vergonha de sair de casa. Saio na rua, e percebo os olhares das pessoas, como se tivessem pensando, “Que gorda safada”, ta precisando de um regiminho ai hein? Isso quando não falam mesmo só para ofender.
E roupa então? Ai danou-se! Só tenho roupas feias, é muito difícil achar roupas bonitas e que caibam em mim. Bom parece que nesse mundo o gordo ta sempre sobrando não é mesmo? Não cabe em lugar nenhum, não tem cadeira no cinema, difícil passar na roleta do ônibus, as pessoas não gostam de dar carona por que se o gordo for não entra mais ninguém e por ai vai.
Agora a poucos dias atrás, fui procurar ajuda médica, por que me sinto uma doente, e não uma sem vergonha, eu como, como vicio me sinto viciada em comida, mas preciso lutar contra isso, preciso de ajuda, sei que não conseguiria sozinha. Agora meu médico me pediu uns exames, disse que terei que fazer ginástica e reeducação alimentar, além de terapia. Eu vou tentar tem que funcionar. Preciso ser feliz.
Bom minha vida é isso ai, meu problema é excesso de peso, o que gera em mim carências como: falta de amor próprio e depressão, sentimento de inadequação etc. Meu vicio é certamente a comida que me faz ter sentimentos de culpa, sei que não devia, mas eu como. É sempre assim, mas é mais forte que minha vontade, não consigo ficar sem. Mais vou continuar lutando e persistindo, sei que vou conseguir, sei que vencerei.
Leila, 18 anos, estudante.
Falta de amor X Drogas
Sei lá, minha infância foi complicada, quem vê de fora pensa que eu tinha tudo para ser feliz, de fato eu tinha, meus pais nunca me deixaram faltar nada, melhores escolas, viagens para o exterior, os melhores brinquedos tudo que eu queria, exceto amor. Às vezes eu tinha uma dúvida, ou precisava de um abraço de uma conversa, e eles sempre estavam ocupados demais para mim. – O que é meu filho, tome vá comprar alguma coisa pra você por que agora estou ocupado. (dizia meu pai para se safar quando eu me aproximava)
Quando tinha uns 15 anos, arrumei uns amigos na escola que passavam por problemas parecidos com o meu, nos sentíamos rejeitados de modo geral, não somente pelos nossos pais, mas pela sociedade, éramos incompreendidos por todos, mas queríamos nosso lugar no mundo, queríamos ser ouvidos.
Começaram a aparecer às festinhas, e ai apareceram as drogas, tomávamos de tudo. Era tudo mágico quando estava entorpecido, os problemas sumiam de minha cabeça, me sentia feliz, alegre amado por os que estavam a minha volta. Sim eu era um amigão, enturmado com a galera. Éramos todos muito loucos, vivíamos desregrados, podíamos berrar, podíamos compartilhar nossas idéias. Sim o mundo era perfeito!!!
Mas quando eu voltava para casa a vida era a mesma, queria tanto que meus pais me amassem, demonstrassem amor e compreensão. Mas o máximo que eles podiam me oferecer era dinheiro, ai eu usava para comprar drogas, elas sim me compreendiam me davam prazer.
A coisa foi piorando com 18 anos, vivia alucinado, cheguei até a agredir minha mãe certa vez, dormia pelas ruas... Nem sabia mais quem eu era.
Às vezes eu me perguntava o que estava acontecendo comigo estava me destruindo, mas não conseguia parar, a droga tomava conta de mim, precisava de mais e mais.
Resolvi procurar ajuda depois que um amigo muito próximo meu morreu de overdose, aquilo para mim foi o fim. Enxerguei a minha morte nos olhos dele quando apagou em uma festa na minha frente. Era como se a morte olhasse para mim e falasse: - O próximo será você.
Aquilo me impressionou muito, foi ai que procurei uma clinica, e me internei, sofri muito com a abstinência das drogas, mas cada vez que pensava em meu amigo, me sentia obrigado a enfrentar essa batalha. Foi sofrido, e até hoje tenho medo da recaída. Mas sei que sou forte e não deixarei a vida pregar novamente essa peça em mim.
Bom é isso, acho que meu vicio: as drogas substituíam de certa forma o amor que eu não recebia de meus pais, e estar integrado dentro de uma turma, me fazia sentir compreendido.
Hoje em dia procuro ver a vida de uma outra forma, procuro me fortalecer para não precisar me destruir.
Vinicius, 25 anos estudante.
Falta de amor próprio X autodestruição (anorexia).
Meu nome é Sandra, tenho 20 anos e desde os 15 sofro de anorexia, é muito difícil conviver com esse problema, vivo um dilema.
Eu sempre fui uma menina que me achava feia, olhava para as outras e queria tanto ser igual a elas, me achava um monstro. Aos 15 anos comecei a me achar gorda, e sofria de depressão, nunca seria uma moça bonita, e no mundo não a lugar para as feias. Na verdade nem gorda eu era, alias nunca fui, mas sempre que me olhava no espelho me achava enorme.
Comecei a sentir nojo de comida, qualquer comida me fazia mal, me causava ânsia, se eu comia, precisava vomitar, se não vomitava me sentia suja, gorda, porca, precisava me livrar daquele alimento.
Tinha crises existências e chorava, mas essa doença é um ciclo vicioso, e não tinha jeito. Assim fui vivendo minha adolescência, entre crises, perda de peso, e psicólogos. (peso 10 kilos a menos que devia para minha altura).
Não tenho muitos amigos, aliais tenho uma única amiga, que é anorexia também igual a mim. Eu a conheci ha um ano atrás na escola, aliais, procuro estudar muito para ocupar a minha vida, não gosto de parar para pensar em nada mais, por que se penso, penso no quanto sou feia, no quanto preciso emagrecer e ai enlouqueço, o estudo é como se fosse uma válvula de escape para mim.
Agora com meus 20 anos, decidi que tenho que dar um basta nessa situação, preciso de ajuda, quero ser uma pessoa normal, sei que vou conseguir, mas é muito difícil, e ainda não sei como, só sei que quero ter uma vida normal.
É isso, refletindo sobre o meu problema acho que a doença surgiu de uma falta de amor próprio e sentimento de inadequação que sempre senti.
Com isso me sentia e sinto que sou meu pior inimigo e a forma de acabar, e destruir meu inimigo é me destruindo, por isso não me alimento, acho. O que vim fazendo ao invés de enfrentar meu problema até agora, foi me esconder do mundo e mergulhar nos estudos. Mas agora quero lutar por minha vida e sei que vou conseguir.
Sandra, 20 anos estudante de direito.
Falta de equilibro emocional e autoconfiança X TOC (manias).
Meu nome é Simone, tenho 24 anos e a pelo menos 10 anos sofro de TOC. No começo eu achava que era louca mesmo, não sabia por que, mas tinha sempre que verificar as coisas mais de três vezes. Tudo, desde fechaduras, para garantir que estavam trancadas, fechar janelas, conferir a bolsa ver se estava levando documentos e dinheiro.
Isso me incomoda muito, pois o que as pessoas ditas normais levariam 1 ou 2 minutos para fazer, eu levo no mínimo 10 ou vinte. Fora a vergonha diante de amigos e conhecidos, quando te flagram fazendo esses movimentos repetitivos.
Já me perguntaram por que eu faço isso, eu não sei, só sei que tenho que fazer é como se eu fazendo isso tivesse prevenindo de coisas ruins acontecerem para mim e para as pessoas que gosto.
Acredito que minhas crises começaram a partir de um sonho que tive, onde uma espécie de demônio me falava que iria matar a todos que amo e depois a mim, que toda minha vida seria desgraçada. Porém achei uma maneira de evitar, deveria sempre me certificar de tudo que eu faço, sem deixar nunca nada pra trás, dessa forma, iria prevenir que aquele pesadelo tornasse realidade.
Bom ai está nunca deixo de verificar as portas, as janelas, obedecer rigidamente horários, sempre me assombro com meus pensamentos de morte e tragédias. Já tentei ficar sem conferir as coisas repetidas vezes, mas ai me bate uma agonia, começo a chorar desesperadamente, como se tivesse a certeza de que algo muito grave iria acontecer por culpa minha.
Agora estou em tratamento psiquiátrico, e tomando medicamentos, posso dizer que já melhorei bastante, mas ainda não abandonei minhas manias completamente.
Bom para refletir, alguma coisa relacionada a meu problema, referindo se a vícios e carências. Talvez, eu possa considerar a falta de equilíbrio emocional e psíquico como encadeador de minhas manias, me tornando dessa forma uma escrava delas e de meus pensamentos mórbidos.
A atitude para me livra dessa escravidão, primeiramente foi admitir a doença, e procurar tratamento. Dessa forma sei que vou conseguir um dia ter uma vida normal e satisfatória.
Simone, 24 anos, estudante de administração.
Desequilíbrio emocional e ansiedade X Cigarro.
Hoje estou com 45 anos, quando comecei a fumar tinha apenas 13, tudo começou quando saia da escola com uma turma de amigas, nessa idade a gente faz de tudo para parecer com os adultos, não queremos mais ser tratados como criança, enfim, Uma das meninas acendeu um cigarro, e eu e as outras começamos a olhar para ela, meio pasmas meio curiosa. Ai ela estendeu o maço e nos ofereceu. A partir daí, éramos as tais, éramos adultas, até fumávamos! Os garotos mesmo, gostavam por que éramos da turminha que abandonou de vez a infância. Éramos adultos e podíamos fazer tudo que bem entendêssemos. (ao menos era o que gostávamos de pensar).
Bom esse foi o motivo inicial para começar a fumar, o problema é que com o tempo percebi que eu me tornara dependente daquilo, não conseguia mais viver sem, sentia uma profunda agonia se passava mais de algumas horas em um lugar que eu não pudesse fumar. A agonia ia crescendo, eu tinha que fumar a toda hora em qualquer lugar, tudo era motivo para eu fumar. Não me importava se eu incomodava os outros que não fumam, (alias, para mim, um povinho chato que só fazia reclamar).
Com vinte anos de idade eu fumava uma média de três maços por dia. E para falar a verdade nessa época, eu nem pensava em parar, pois devo confessar que eu gostava mesmo de fumar. (quem fuma não é recriminado como quem bebe ou quem se droga, mesmo o cigarro sendo uma droga que leva a morte como todas as outras, pode se dizer que o cigarro é uma droga aceita socialmente, acho que isso induz as pessoas a começarem a fumar, o problema é que nos tornamos dependentes, e largar o vicio não é tão fácil assim).
Bom acontece que com trinta anos, eu me apaixonei por um rapaz, começamos a namorar e tudo, mais o perdi graças ao cigarro, ele não fumava, e com duas semanas de namoro virou para mim e disse que, era insuportável namorar uma chaminé, com alguém que fede a cigarro, que está sempre acendendo cigarros e tem gosto de cinzeiro.
O problema é que quando ele me largou meu mundo caiu, eu continuava apaixonada, e ele não tinha me dado nem sequer a oportunidade de tentar largar o cigarro.
Decidi então que iria largar o vicio. Mais devo admitir, que foi muito mais difícil do que eu imaginava. A agonia e a ansiedade iam crescendo dentro de mim a cada hora que eu passava sem cigarro, sonhava com cigarro, pensava o dia todo em cigarro, e convivia direto com fumantes. Não resisti minha primeira tentativa fracassou ao final de 3 dias. Chorei até não agüentar mais, me sentia pressa ao cigarro, derrotada e incapaz, nunca mais iria rever e reconquistar meu amor, era uma fraca.
Depois dessa tentativa, surgiram várias outras, igualmente fracassadas, mais a cada nova tentativa tinha em mente que para mim era um objetivo a se alcançar, largar o cigarro e reconquistar o Julio. Tinha certeza que se conseguisse ele voltaria para mim. Não sei o que mais me doía se era a falta de cigarro ou a falta do Julio.
Enfim depois de tanta luta, com 40 anos larguei definitivamente o cigarro. É claro que ainda sinto vontade às vezes de fumar mais eu sou mais forte que o cigarro e não vice-versa como acontecia antes! Isso mudou minha vida, me sinto muito mais forte e controlada agora. Percebi que antes eu era uma pessoa nervosa, descontrolada e desequilibrada emocionalmente, incrível perceber tudo isso apenas com o gesto de deixar de fumar.
Há! É claro, o Julio, eu não reconquistei não. Esbarrei com ele outro dia na rua, e fui toda contente comunicar que tinha parado de fumar, ele pareceu feliz com. minha atitude e pediu perdão por ter sido tão duro naquele tempo! Mais nada mais aconteceu, uma vez que o tempo passou e agora ele tinha outra pessoa com quem tinha se casado.
Mais não me entristeci não, pelo contrário ele serviu como um motivo, para eu largar um vicio, e isso foi muito positivo, só tenho agradecer, e mais com tudo isso, percebi que, não era o amor de Julio que eu tinha que reconquistar e sim meu amor próprio, pois estava me suicidando aos poucos e nem conseguia enxergar isso.
Maria, 45 anos secretária.