domingo, 20 de setembro de 2009

Meu projeto de contos: categoria Terror

A milanesa

Lia, tinha 10 anos, morava com a mãe e com seus dois irmãos mais novos, Bianca de 8 e Pedro de 7 anos.
Seu maior pesadelo era ir para a escola, odiava, odiava tudo, odiava as professoras e professores, odiava a diretora, odiava os colegas, e tudo o mais que tivesse incluso naquele horripilante lugar ao qual tinha que se dirigir todo o santo dia.
Tinha calafrios ao acordar sabendo que iria para lá, e na saída, sentia-se aliviada, porém ao dormir tinha pesadelos. Ninguem podia entender por que a escola lhe causava tamanha repulsa, o que tinha de tão errado com seu colégio? Afinal todas as crianças de sua idade passavam por isso, inclusive seus irmãos, não poderia ser assim tão sacrificante.
Certo dia, Lia saiu na hora do recreio para o pátio, tomar água, o bebedouro ficava ao lado de um corredor, que dava para a diretoria, Ouviu umas risadas que pareciam vir de lá, resolver chegar mais perto para ver do que se tratava. Agora as vozes misturadas as risadas pareciam mais nítidas, encostou o ouvido à porta, que estava entreaberta, ficando em uma posição em que não pudesse ser vista mas que pudesse sair despercebida, caso fosse necessário.
Parecia uma reunião de professores, pelo que ouviu falavam sobre a excursão ao circo que aconteceria dali há dois dias, estavam empolgados. Lia procurava prestar atenção em todas as palavras que eram ditas, para não perder nada, a entonação das vozes e a risadas sarcásticas, prenunciavam que coisa boa, não estavam tramando ali.Sempre achou muito estranho aquele pessoal daquela escola.
Um arrepio gélido percorreu a sua espinha de cima abaixo, quando percebeu qual era o plano.Pensou: não era possível, só podia ser mais um de seus pesadelos, nenhum ser humano seria capaz de uma crueldade daquelas... O medo dominou-a por completo, e tratou de sumir dali antes que alguém a visse e ai só deus sabe que destino lhe dariam.
Voltou para a classe, apesar de sua vontade ser pegar os irmãos e sair correndo, dali, pois se fizesse isso iriam perceber que ela sabia de algo, e também não deixariam três crianças deixar a escola sozinhas.
Na hora da saída, ficaram ela e os irmãos esperando a mãe chegar, entraram no carro, e no caminho para a casa, Lia começou a falar desesperadamente, disse que não poderiam ir ao circo de jeito nenhum e contou o plano que escutará algumas horas atrás, mas todos começaram a rir de sua cara. Os irmãos ainda disseram que não deixariam de ir nessa excursão por nada, a mãe não pode acreditar no que Lia dizia pois sabia que a filha faria de tudo para ficar um dia que fosse longe da escola. Não ir á excursão acabava por ser um bom motivo para ficar em casa, mas achava que a filha precisava se socializar com os colegas então estava decidido Lia iria com os irmãos ao circo. E de mais a mais, aquela estória que a filha acabará de contar era demais absurda, só podia ter saído da cabeça de uma criança mesmo, até chegava a rir em seus pensamentos, com a criatividade da menina: - Imagina só, professores de uma escola planejarem, fazer dos alunos bolinhos a milanesa em camas fritadeiras, para depois banquetear? Estava se segurando para não rir alto.
Lia ficou em estado de nervoso e desespero até chegar o fatídico dia do circo, precisava fazer alguma coisa para sair ilesa dessa juntamente com seus irmãos, mais o que? Quanto mais pensava, mais parecia que sua mente esvaziava de idéias.
Sua mãe deixou-os então, na porta da escola, onde os alunos faziam fila alegre para entrar nos ônibus, que os levariam ao 'tal circo “. Lia esperneava e chorava ao mesmo tempo tentando alertar sua mãe e irmãos do perigo que estavam correndo, mas a mãe não deu ouvidos, virando as costas e deixando-os lá nas mãos do destino”.
Lia viu passar a diretora, com um sorriso demoníaco no rosto, logo atrás a corja de professores com ares malignos. Naquele dia o sol brilhava vermelho sangue, o ar estático cheirava a morte, o cenário estava montado para a atrocidade que estava para acontecer.
Lia fugiu da fila de sua classe, e daria um jeito de tirar os irmão dali, foi de mansinho caminhando atrás dos professores sem que pudessem perceber, viu os entrar na diretoria, e sair, deixaram a porta entreaberta e não tinha ninguém lá dentro no momento, seria sua chance de tentar recolher alguma prova do que estava acontecendo e assim salvar seus irmãos a tempo. Entrou, e logo na mesa central, onde aconteciam as reuniões de professores, viu uns folhetos, com o endereço de um galpão, e com a data de aluguel para hoje! Sim para hoje!! Ali estava a prova que precisava para salvar quem sabe, todas as crianças!
Correu procurando a fila em que estavam seus irmãos, mas já era tarde, o ônibus havia acabado de partir. Pegou um táxi correndo, sem se preocupar como iria paga-lo depois, não tinha cabeça no momento agora para aquilo, pediu que o motorista seguisse os ônibus. O motorista ao notar o desespero da menina acabou por fazer o que ela queria, também sem pensar se a menina teria ou não dinheiro para paga-lo.
Chegaram, os ônibus estacionaram em um enorme galpão que parecia meio abandonado. A menina desceu, e deu o dinheiro que tinha para o taxista, chorando disse que era tudo que tinha e que era caso de vida ou morte, ele meio sem reação e atordoado com a situação acabou por aceitar e se ofereceu em esperar a menina ali.
Lia esperou que todos entrassem para ir até lá, para não ser percebida, circulou o galpão a fim de achar uma entrada pelos fundos, achou uma janela baixa sem vidros, por onde conseguiu passar, afinal era pequenina e magra, passar em locais difíceis e espremidos não era problema. Caiu em uma sala vazia, aquele lugar parecia tão grande! Haveria tempo suficiente para achar seus irmãos ao menos e fugir dali? Pareciam salas intermináveis e quanto mais andava, mais sozinha parecia estar ali.
Após uma hora mais ou menos andando em círculos, achou uma porta fechada, não parecia ter voz alguma vindo dali, então arriscou entrar. Porém o que os seus olhos enxergaram lá naquele momento, desejaria, jamais ter dito olhos para ver uma cena daquelas, aquilo era pior que qualquer pesadelo que já tenha tido em seus poucos anos de vida, o cheiro então... Era nauseante, e experimentou uma zonzeira como se pudesse cair dura a qualquer instante, ficou boquiaberta, paralisada, por segundos intermináveis, até que um impulso misturado com seu instinto de sobrevivência, a fez percorrer aquelas macas com crianças fritas a milanesa parecendo croquetes gigantes prontos para serem devorados pelos professores e pela diretora, percorreu para identificar se possível, seus irmão ali, precisava ter certeza que já não havia mais esperança... Ou.
Para seu horror e infelicidade, sim acabou por identificar os corpos que procurava...Agora realmente não havia mais nada a ser feito, a não ser tentar salvar sua própria pele, sair daquele pesadelo, se é que isso seria possível.

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