Parte III – Depoimentos - O ciclo vicioso
- Minha vida é assim um dia atrás do outro, dias sem fim, pois morre um começa outro. Todos praticamente iguais, de casa para o trabalho, do trabalho para a casa. Fins de semana: hahahahah essa é bom, ou pior péssimo! E ai que a coisa pega. Prefiro nem pensar, procuro continuar..... Assim, se não vou trabalhar (para não me afundar em minhas insatisfações), durmo bastante, bebo bastante me sinto amortecido e em paz, esqueço... Às vezes procuro comprar alguma coisa que me agrade, como doces, que adoro!! Uma boa comida, um cinema quem sabe. Mais nada que realmente me anime, não tem muita graça. Alias, às vezes me lamento, procuro não fazer isso, procuro o que me agrade e de prazer, é assim que consigo ir vivendo, meus dias...
Mais sei que isso não está certo, portanto, por mais que fuja, vivo alguns momentos de reflexão que me incomodam. Eu penso, por que não sou feliz, tenho coisas boas em minha vida sim! Mas outras me faltam... Acredito algumas vezes, que o que me falta é atitude perante a vida, Não sei viver, não me sinto preparado para enfrentar a vida de frente, por mais que estude, acabo sempre me sentindo incapaz, desvalorizado, com certeza é por isso que apesar de trabalhar muito não sou valorizado, tenho salário baixo, eu sei que não luto e não brigo por uma posição melhor, eu tenho medo. E esse medo me derruba, fico triste me sinto incapaz sinto raiva de mim mesmo, um fraco que nunca será ninguém...
Quase insuportável viver assim é muito ruim, já passei por diversas terapias, li livros de auto-ajuda, não posso dizer que não melhorei, melhorei sim! Mas não o suficiente para me impor, para tomar uma atitude. Para achar e tomar posse de meu lugar na vida!! Eu sei que enquanto não me sentir capaz e confiante, não terei emprego melhor não adianta nem procurar.
Quem daria um bom cargo para uma pessoa assim? Não disfarçamos o que sentimos sobre nós mesmos, podemos tentar, mais quando não confiamos na gente, isso transparece, não tem jeito.
Outra grande insatisfação em minha vida é que vivo só. As pessoas não me acham interessante, possivelmente nunca ninguém se apaixonou por mim, se sim, nem sei, deveria ser outra pessoa fraca que nem eu, os fracos atraem os fracos, meus relacionamentos não duram mais que dois meses, isso quando estou com alguém, passo anos sem ter ninguém, amigos tenho muito poucos, dá para contar nos dedos, mais dificilmente saio com alguém para uma festa, para sair, para me divertir. Vivo só.
Também sou culpado disso, me sinto menos bonito que os outros, já cheguei a me sentir muito feio, hoje procuro me sentir ao menos uma pessoa normal de aparência, nem mais, nem menos, mais ai me sinto sem atrativos, sem sal. Também não me sinto muito interessante tenho medo de me expressar, sinto-me meio bobo, às vezes, a grande maioria das vezes, eu bebo para ter coragem de me expressar quando estou com outras pessoas, dessa forma, embriagado, me sinto mais confiante e feliz...
Se me perguntar qual a minha carência, posso dizer que é falta de confiança, falta de coragem, falta de amor e compreensão. Mais uma lição eu aprendi primeiramente somos nós quem temos que nos amar, sentirmos auto confiança, coragem etc, só assim os outros e o mundo iram ser bons, justos, e compreensíveis conosco. Os outros nos tratam e nos recebem de acordo com a imagem que nós mostramos ser e da maneira com agimos. O destino não tem nada a ver com isso, nossa vida é a gente quem faz.
Apesar de ter consciência e estar traçando minha luta contra meus problemas, tenho minhas recaídas. E se me perguntar quais os meus vícios, de que modo tento disfarçar minhas insatisfações eu posso dizer: Bebidas alcoólicas, comer coisas engodativas e saborosas, doces, cutucar minha pele para ficar com a cabeça vazia de pensamentos, dormir demais às vezes, ler, ouvir música, dar uma volta por ai e procurar me distrair. (Obs: as quatro ultimas coisas citadas não são prejudiciais eu acho, porém, auxiliam para esquecer momentaneamente um problema que poderia ser resolvido se encarado sem medos.).
André, 35 anos, professor.
Hoje acordei cedo lá pelas 6 da manhã, tomei meu café da manhã e fui caminhar em um parque perto de casa, gosto de caminhar, ajuda meu raciocínio. Estava precisando achar outras pessoas dispostas a me ajudar com seus depoimentos, o pior é que não fazia idéia de quem procurar. É muito difícil as pessoas admitirem seus próprios erros, sentimentos e vícios.
Enquanto caminhava, meu pensamento vagava em minha mente, pensei em André, e em como de repente tínhamos virado tão amigos, nunca tinha imaginado isso, somos vizinhos há tanto tempo, e só agora que realmente tínhamos parado para nos conhecer melhor. Ele é uma pessoa tão inteligente e cheia de potencial, fico pensando, por que alguém como ele se sente tão pra baixo e é tão infeliz.
Enfim, fiquei pensando em nossas conversas e em sua empolgação com o livro, era realmente muito agradável conversar com ele.
Fui trabalhar, procurei ficar observando as pessoas, e tentar sentir algum meio de me aproximar de alguém e falar sobre o assunto. Mais logo a coragem ia embora, as moças que trabalhavam comigo eram tão arrogantes, no Máximo achariam que sou louca e eu viraria motivo de piada dentro da loja.
Naquele tarde meu telefone tocou, pra minha surpresa era o André.
- Oi André, você não vai acreditar estava pensando em você hoje mesmo! Como você está?
- Eu estou bem! Mas que coincidência, eu também estava pensando em você, e no seu livro, eu gostaria de te apresentar uma pessoa que pode te ajudar com os depoimentos. É a minha psicóloga, tenho consulta hoje às 6 horas da tarde, e ela é alem de psicóloga, minha amiga! Eu já conversei com ela sobre você, estava pensando de marcarmos para sair de lá para um café nós três para conversarmos. O que você acha?
- Que maravilha André estava pensando exatamente em quem procurar para dar continuidade aos meus depoimentos, acho que seria perfeito eu topo sim! Obrigada!!
- OK! Posso passar ai às 6 horas então? Ai você vai comigo direto?
- Ok André combinado te espero as seis então.
- Até.
Às 6 horas em ponto, André veio me pegar na loja, conforme combinado, fomos ao consultório, e eu aguardei a consulta dele, na sala de espera lendo uma revista.
Finalmente ele saiu, acompanhado da psicóloga.
- Dra. Ruth, essa é a Alice, aquela amiga minha que eu havia lhe falado.
- Oi Alice prazer.
Seguimos os três até um café ali pertinho do consultório, pedimos café com pão de queijo, e começamos a conversar.
A Dra. Ruth mostrou-se muito interessada também, assim como André. Conversamos que nem vimos à hora passar. Por fim, ela me disse que iria conversar com alguns de seus pacientes e propor que escrevessem depoimentos, diria a eles que suas identidades iriam ser preservadas, e disse para mim que provavelmente conseguiria bons depoimentos. Trocamos telefone, e ficou de me ligar assim que conseguisse alguma coisa.
Nós três nos despedimos, e cada um seguiu seu rumo de volta para casa.
Passaram se três semanas, e a Dra. Ruth me ligou marcando um novo encontro naquele mesmo café, disse que tinha conseguido alguns depoimentos para mim.
Cheguei lá na hora marcada, e lá estava ela, toda animada, disse que os pacientes gostaram da idéia de escrever sobre seus próprios problemas, ainda mais se o intuito era ajudar pessoas que passam pelo que eles passam se sentiram úteis sabendo que poderiam ajudar.
Fiquei super feliz nem sabia como agradecer, mais ela sorriu pra mim, e disse que apostava no livro e que gostaria se ser convidada para o lançamento.
Sai de lá, toda feliz, não só eu estava progredindo em minha idéia, e no livro, mais também tinham duas pessoas, que acreditavam muito em mim, e estavam colaborando demais com esse livro, estava confiante, sabia que tudo daria certo. E além do que ganhei dois bons amigos.
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